domingo, 13 de janeiro de 2013

ELEFANTE BRANCO - CRÍTICA




A Busca do Milagre
Por Vagner Gomes de Souza
Seria um “milagre” o filme “Elefante Branco” ser exibido em qualquer sala de cinema na Zona Oeste carioca. Uma triste conclusão diante de uma antropologia local repleta de ações individuais inspiradas nos anseios da salvação pela fé. Nem a expectativa da visita do Papa Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude auxilia nesse fenômeno sobrenatural. Afinal, o filme tem lições aos moradores que se orgulham de receber um empreendimento comercial capaz de ser um dos maiores shoppings da América Latina (ainda sem cinema; ainda sem teatro; ainda sem livraria). A carência pode ser a fonte psicológica dos que anseiam por milagres nos processos políticos sem “ator”.
Após o diagnóstico de um possível câncer na sociedade, falemos de um filme que começa na Amazônia Peruana junto ao tema mariateguiano dos indígenas. “Elefante Branco” leva o expectador até a periferia de Buenos Aires. O Padre Julian, muito bem interpretado pelo ator Ricardo Darín, faz a narrativa de mais um  “sonho socialista”: a construção de um Hospital Público proposto pelo primeiro legislador socialista da América, Alfredo Palácios. Idas e vindas fizeram do “sonho” uma obra inacabada que ganhou o apelido de “elefante branco” e deu origem a mais um conjunto de favelas.
Diante de diversos problemas sociais, o milagre poderia estar próximo a realizaçãon com o uma nova obra pública de reassentamento urbano. Saúde e moradia popular. Contudo, os sujeitos sociais de “Elefante Branco” vivem num purgatório diante da falta de perspectiva para a juventude que nem estuda e nem trabalha, das goteiras da Capela em dias de chuva, da violência, das ruas de lama, dos atrasos do pagamento aos operários da construção civil, da cúpula da Igreja Católica interessada na beatificação de um Padre assassinado em plena ditadura militar, etc. Em tempos de kichenerismo, seria uma visão profunda dos dilemas da fé na ação social.
A tensão social do filme “Elefante Branco” ajuda a despertar uma fé na necessidade de uma ação política. O Padre Julian vai expor os limites de viver a conjuntura apenas como expectador. A cúpula da Igreja Católica é surpreendida por sua atitude ao se unir aos moradores de sua paróquia quando a obra pública é mais uma vez suspensa. A velocidade das ações gradualmente ganha velocidade semelhante ao filme “Cidade de Deus” até ao momento da “redenção”. Se Jesus deu a vida para salvar a humanidade, outros seguem esse exemplo para deixar herdeiros para uma transformação social sem os Centros Sociais costumeiros que testemunhamos na Zona Oeste carioca e alhures. Porém, esse seria outro milagre.

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